Jacob Mehl fala sobre desafios dos setores ligados ao turismo

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Desde abril, o Sindicato Empresarial de Hospedagem e Alimentação – SEHA está sendo comandado pelo empresário João Jacob Mehl. Jacob atua no segmento de eventos há muitos anos, e agora, à frente do SEHA, tem como objetivo fazer o sindicato ter mais representatividade política em Curitiba. Em uma entrevista exclusiva para o ECO Curitiba, Jacob faz um balanço desses primeiros meses de gestão, fala dos desafios e metas a serem cumpridos. Confira:

Eco))) Quais são seus maiores desafios a frente do SEHA?
Jacob: O principal desafio foi abrir a porta do sindicato para todas as entidades ligadas ao turismo, como a Abrasel, Sindetur, Fecomércio, Abav, entre outras entidades que fazem parte do trade turístico. Além disso, criamos um canal com a área governamental, para mostrar as necessidades. Mas o principal desafio que foi cumprido foi formar uma equipe administrativa forte e boa, com companheiros de diretorias, uma equipe que me dá muito prazer em trabalhar.

Eco))) Quais são as principais metas e objetivos da sua gestão?
Jacob: Durante esses meses, já participamos de reuniões e passamos nossas reivindicações para nossos governantes. Estamos em um período de transição, onde esperamos que o governo do Paraná tenha mais participação nacional. Nós precisamos de obras de infraestrutura: no aeroporto, no porto, ter um centro de convenções. Também é de suma importância termos um calendário oficial de eventos, para não acontecer eventos simultâneos. Essa é a nossa função, lutar pelas nossas reinvindicações e criar relacionamentos com entidades do setor, para juntos fortalecermos o turismo em Curitiba.

Eco))) Falando em relacionamento, como está a aproximação das entidades que fazem parte do trade turístico de Curitiba?
Jacob: Estamos nos dando bem. Esse é o primeiro passo. Não se faz nada da noite para o dia. É uma aproximação, já ficou claro que ninguém quer tomar o lugar de ninguém. Todos temos consciência que trabalhamos juntos, em função de benefícios em conjunto. Nós apresentamos nossas reinvindicações juntos. E essa foi a principal conquista: esse relacionamento cordial, com respeito entre as entidades.

Eco))) O SEHA atua com vários segmentos, como restaurantes, hotéis, bares, que possuem realidades e peculiaridades específicas. Como administrar todos esses pontos?
Jacob: Eu tenho uma diretoria boa, com um diretor capacitado para cada segmento, um responsável para hotelaria, outro só para bares, outro para pizzarias, fastfoods. Em cada segmento, temos um diretor atuante, forte, que tem frequentado todas as reuniões que agregam mais conhecimento para sua área. Também estamos nos aproximando dos vereadores, deputados, para criarmos uma bancada que defenda nossos interesses, para que eles possam enxergar nossas necessidades, que são muitas.
Eco))) Quais são os planos da atual gestão para fortalecer e aumentar a representatividade política do segmento na sociedade?
Jacob: Nós temos muitos problemas. E temos políticos que tem se interessado pelas nossas causas. Alguns políticos populistas criam projetos para limitar a nossa área, muitas das vezes projetos sem sentido, inconstitucionais. Não temos uma secretaria de turismo no estado. Eu não me preocupo com quem será o secretário, mas sim com o que essa secretaria vai fazer pelo turismo. O que vai ser feito, o que vai cuidar. É importante que se leve em consideração o trabalho do Conselho de Turismo da Fecomércio, que planeja o segmento que hoje, os governantes não dão atenção.

Eco))) A Copa do Mundo: o que esse evento agregou para o setor?
Jacob: Nós tivemos hotéis trabalhando com a capacidade máxima de hóspedes, alguns bares lucraram, mas os restaurantes ficaram vazios. Não podemos dizer que foi ruim. Alguns hotéis tiveram um aumento de 20% no movimento. Os bares ganharam muito dinheiro, aqueles em pontos específicos, como no Batel, na Praça da Espanha, no Largo da Ordem. Já os restaurantes, não. Teve alguns estabelecimentos que caiu o movimento. Mas a Copa nos serviu de vitrine. Eu participei de várias reuniões, para nos orientar no combate a exploração sexual, trabalho infantil, trabalho escravo, a questão da segurança. E segundo o relatório da Fifa, Curitiba não teve uma ocorrência nesse sentido. Fomos um exemplo. O nosso estádio foi o único estádio no Brasil que não teve problemas com alimentação contaminada. Nós conseguimos nos organizar.

Eco))) E a polêmica questão dos 10% e da gorjeta. Qual o posicionamento do sindicato quanto a isso?
Jacob: Essa é uma questão antiga. Sempre se cobrou 10% da nota, e na maioria das vezes, esse valor vai para o garçom. Mas cada empresa definiu a forma desse repasse: divide o valor com todos os funcionários, divide só com os garçons, o empresário fica com uma parte… É uma questão difícil, é um costume de anos. É difícil unificar uma forma única de trabalho. Está difícil aprovar no Congresso a lei que determina que os empresários possam deduzir. Essa questão dos 10% já gerou muitas ações trabalhistas. Eu sei de empresários que estão prestes a fechar as portas, pois não tem como pagar as indenizações que esse tema gera. A orientação do sindicato é que os empresários passem a dividir esse valor integralmente a todos os funcionários, não só aos garçons.

Eco))) Os governantes têm atuando em prol do setor?
Jacob: Infelizmente, não. Estou triste com a notícia que a presidente Dilma vetou a desoneração da folha de pagamento. A Lei Seca também precisa ser revista. Uma pessoa que fica embriagada não pode ser comparada com uma pessoa que toma uma taça de vinho em um jantar com sua esposa. Precisa mudar esse critério, tem que ser uma coisa diferenciada. Desde a implantação dessa Lei Seca, a venda de bebidas alcóolicas caiu 55%. E o lucro real dos restaurantes é na bebida. É preciso ter flexibilidade.
Outro exemplo: Foz do Iguaçu é uma das maravilhas do mundo, fica no nosso estado, mas não temos uma secretaria para criar um planejamento. Ás vezes, o turista desce no aeroporto, vai conhecer as Cataratas e retorna ao aeroporto, sem fazer uma refeição na cidade. Isso é inadmissível. Olhem em Santa Catarina: na mesma semana em que acontece a OctoberFest em Blumenau, acontece a Fenarreco em Brusque, a Marejada em Itajaí, a FenaChopp em Jaraguá do Sul, em Balneário Camboriú tem sempre shows e atrações. Tudo no mesmo período, para segurar o turista mais tempo. Por que não fazer isso: tem a feira de louça em Campo Largo, por que não criar alguma coisa em São Luiz do Purunã? Tem alguma festa em Paranaguá, por que não ter alguma atração em Matinhos ou Caiobá? Mas para isso é necessário um calendário. Santa Catarina, quando soube do calendário da Copa, foi até o Equador vender suas atrações.
Resultado: quatro mil equatorianos ficaram hospedados em Balneário Camboriú. Falta infraestrutura: nosso aeroporto tem uma pista pequena, no porto um navio com turistas não pode atracar porque não tem onde o turista descer se não for no meio da soja. O ônibus do turismo não tem onde estacionar na cidade. E tudo isso está na nossa pauta de reinvindicações. Não posso aceitar que não se tenha uma atenção especial para tudo isso. Quem vem do Rio de Janeiro e São Paulo para o sul do país tem que ter Curitiba como porta de entrada, e hoje não somos.

Eco))) O turista que vem a Curitiba é bem atendido, bem servido em nossos estabelecimentos?
Jacob: São Paulo é a capital do mundo, um exemplo para nós. Mas Curitiba não perde em nada, em termos de restaurante, para ninguém. Nunca foi investido tanto nessa área. Os nossos empresários investiram de forma fantástica. Grandes redes hoteleiras vieram para a cidade. Temos excelentes restaurantes, casas que não perdem em nada para São Paulo. Importamos chefs de cozinha de primeira qualidade. Tenho orgulho do que foi feito nesse segmento em Curitiba. E todo esse investimento precisa ser respeitado. Nós somos a categoria que mais emprega no Brasil; isso precisa ser divulgado, o governo precisa enxergar. Temos que ser aproveitados. Curitiba é muito famosa, tem o rótulo de cidade limpa, maravilhosa, mas não estamos explorando isso. Todo mundo se encanta com Curitiba. Somos referência no mundo. Ninguém sai se queixando de Curitiba. O que acontece é que, com o crescimento da capacidade dos hotéis e restaurantes, falta mão de obra qualificada.

Eco))) Quais as novidades do setor para o próximo ano? Quais os projetos?
Jacob: Estou pensando em criar uma feira voltada ao empresário do ramo hoteleiro, mas de forma que possa atrair outros setores que utilizam as mesmas coisas que nós, como as lavanderias, panificação, confeitarias. Elas utilizam os mesmos produtos e maquinários que os hotéis. A ideia é criar uma feira forte, que seja modelo em todo sul do país, que seja catalizadora de todos os empresários do sul. Eu preciso trazer gente para Curitiba, encher hotéis, encher restaurantes. Esse é o maio objetivo da minha gestão: trazer gente para Curitiba. Talvez criar um festival de fanfarra, que é algo tradicional do Paraná. Criar mais atrações durante o Festival de Teatro de Curitiba.

Eco))) Uma novidade no setor de gastronomia da cidade são os foodstrucks…
Jacob: Esses foodstrucks precisam ser organizados. Estão surgindo sem critério. Não somos contra, mas é preciso regulamentação. Várias feiras gastronômicas acontecem na cidade, onde não há o mínimo de higiene, isso é gravíssimo. Os restaurantes e bares são duramente cobrados dentro da lei: os funcionários têm que ter curso de higiene, manipulação de alimentos, a vigilância sanitária e a Brigada dos Bombeiros fiscalizam. E na rua, os trabalhadores não tem como lavar a mão. Isso preocupa todo o segmento. Estamos indicando para vereadores para que se regulamente isso. Não queremos impedir, mas tem que ser policiado como nós somos, para garantir a saúde dos clientes.

Eco))) Na sua opinião, além da infraestrutura e do planejamento, o que mais falta para fomentar ainda mais o turismo em Curitiba?
Jacob: Precisaríamos ter um ginásio de esportes qualificado, como as arenas americanas, para grandes shows, convenções religiosas, com anfiteatro para 15 mil pessoas, com poltronas, com ar condicionado, estacionamento. No Brasil não tem isso. Tem o Mineirinho, o Maracãnazinho, mas não temos isso. Aqui nós não temos ginásio e isso traz público: para quem paga, quem quer conforto, com ar condicionado. Teria que se pensar nisso, em dar condições para que empresários invistam nisso.

Eco))) Jacob, uma mensagem para os empresários que ainda não são associados ao SEHA:
Jacob: Traga para o sindicato suas reinvindicações. As queixas quem pode resolver é o sindicato, ninguém resolve sozinho. Juntos, o sindicato tem representatividade e pode cobrar. Temos um corpo de advogados em todos as áreas: trabalhista, fiscal, um amplo departamento jurídico, para ajudar as pessoas. Oferecemos cursos para melhorar a qualidade dos funcionários. Alertamos quanto as leis que são desconhecidas, como a renovação dos alvarás todos os anos. Nossa obrigação é deixar o associado livre de problemas, que sejam resolvidos aqui dentro, para que ele possa trabalhar tranquilo. Ele precisa ver o sindicato como uma melhoria para o negócio dele. O sindicato quer ajudar todo mundo. As pizzarias, por exemplo, têm problemas com insalubridade e periculosidade com os motoboys, mas muita gente não sabe. Nós permanentemente estamos alertando nossos associados.

Eco))) Mudando um pouco de assunto… vamos falar de futebol: O Jacob volta para a presidência do Coritiba?
Jacob: (Risos) Não vai voltar. Nunca me neguei a ajudar o Coritiba. Vivi 40 anos ocupando cargos, fui diretor de finanças, diretor de futebol profissional, de secretarias, presidente. Acho que eu fui o único presidente que, depois da sua gestão, foi chamado para cuidar dos juniores. Mas nesse momento, não posso voltar, o sindicato é meu foco. Mas quem for presidir o Coxa precisa entender de futebol, não ser só um empresário. A situação do Coxa nos últimos três anos é inadmissível. Na minha opinião, cuidando do futebol, tem que estarum coxa branca apaixonado, que tem vergonha de sair na rua no outro dia. Tem que ser pessoas comprometidas, que viveram o futebol, que conhecem o futebol. Se eu tivesse mais duas horas no meu dia, eu me dedicaria ao Coritiba (risos). Mas hoje, meu foco é o SEHA.

))) Por Fran Lima